Quem foi Edgard Roquette-Pinto?

Quem foi Edgard Roquette-Pinto?

Edgard Roquette-Pinto (Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1884 – ibid, 18 de outubro de 1954) foi um legista, professor, autor, antropólogo, etnólogo e ensaísta brasileiro.  Como membro da Academia Brasileira de Letras, é considerado o pai da radiodifusão brasileira. Fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, cujo objetivo era difundir a educação por esse meio por volta de 1923.

Roquette-Pinto cursou a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, graduando-se em 1905. Logo após a formatura, iniciou uma série de estudos sobre os sambaquis do litoral gaúcho. Foi Professor Adjunto de Antropologia no Museu Nacional da UFRJ em 1906,[1] Professor de História Natural na Escola de Professores do Distrito Federal em 1916, e Professor de Fisiologia na Universidade Nacional de Assunção em 1920.

Em 1912, Roquette-Pinto tornou-se membro da Missão Rondon e passou várias semanas em contato com os índios Nambiquara, que não tinham contato prévio com a civilização. [1] Na volta, trouxe consigo um rico material etnográfico e, como resultado dessa viagem, publicou em 1917 o livro Rondônia – Antropologia etnográfica, considerado um clássico da antropologia brasileira. Seu trabalho sobre os tipos antropológicos brasileiros chamou a atenção por demonstrar que a mestiçagem brasileira não produziu “tipos raciais” degenerados ou inferiores. pelo contrário. De acordo com suas pesquisas, a população mestiça brasileira é saudável e eugênica, refutando o tradicional estigma racial criado por cientistas e viajantes, e até mesmo pela elite intelectual brasileira, que viaja pelo Brasil desde o século XIX. Segundo a antropologia de Roquette-Pinto, o maior problema dos brasileiros não é a raça, mas as questões sociais e políticas, principalmente a falta de educação e saúde pública.

Em 1926 foi diretor do Museu Nacional da UFRJ,[4] onde organizou a maior coleção de filmes científicos do Brasil.

Em 1932, Getúlio Vargas aprovou a lei da exibição obrigatória de filmes nacionais, e Roquette-Pinto criou o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE). A pedido do Ministro da Educação e Saúde Gustavo Capanema, convidou o Diretor Humberto Mauro para trabalhar com ele. Humberto fez mais de 300 documentários curtos entre 1936 e 1964.

Roquette-Pinto é membro do Instituto Brasileiro de História e Geografia, da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade Geográfica, da Academia Nacional de Medicina, da Associação Brasileira de Antropologia (da qual é presidente honorário) e de muitas outras associações culturais nacionais . e países estrangeiros. É um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro.

Na Academia Brasileira de Letras
Na Academia Brasileira de Letras, foi o terceiro ocupante da cadeira 17, tendo sido eleito em 20 de outubro de 1927, na sucessão de Osório Duque-Estrada, e recebido pelo acadêmico Aloísio de Castro em 3 de março de 1928. Afonso Taunay em Miguel Osório de Almeida em 6 de maio de 1930 e 23 de novembro de 1935.

Edgar Roquette-Pinto também foi agraciado com o título de Patrono do Presidente nº 33 da Academia Brasileira de Médicos Escritores, cujo fundador é o urologista paulista Helio Begliomini.

A primeira rádio do Brasil
No ano de comemoração dos 100 anos da independência do Brasil, uma grande exposição internacional foi realizada no Rio de Janeiro, então capital federal, e empresários americanos portadores de tecnologia de transmissão estiveram hospedados no local da exposição, que foi o tema principal da Estados Unidos na época.

Para testar o novo método de comunicação, os americanos instalaram antenas no alto do morro do Corcovado (onde está agora Cristo). A primeira transmissão de rádio no Brasil foi um discurso do presidente Epitásio Pessoa, que foi captado em Niterói, Petrópolis, nas serras do Rio de Janeiro e São Paulo, onde foram instalados receptores. [1] A resposta de Roquette-Pinto à tecnologia foi: “Esta é uma máquina importante para educar nosso povo.”[6]

Após sua primeira transmissão no Brasil em 1922,[7] Roquette Pinto tentou persuadir o governo federal a comprar o equipamento que foi exibido na Exposição Internacional.

Para o intercâmbio no Brasil, ele não desistiu e conseguiu convencer a Academia Brasileira de Ciências a comprar o equipamento. Em 20 de abril de 1923, Roquette-Pinto fundou a primeira rádio oficial do país,[8] Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (atual Rádio MEC).

Três anos depois, em 1926, a Rádio Sociedade lançou a revista Eléctron, dedicada às tecnologias rádio emergentes, com diagramas dos receptores da época, tendo como diretora Roquette Pinto. Esta é a primeira revista nesta área no Brasil.

Em 1936, doou a emissora ao governo brasileiro, especialmente ao Ministério da Educação, para transformá-la na Rádio MEC.

Roquette-Pinto também é radioamador e participa de diversas associações dessa categoria, como a Liga Brasileira de Amadores de Rádio Transmissão (LABRE). Em 1937, seu rádio usava o indicativo SB1AG. [10]

No primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia
É organizado para comemorar o centenário da Academia Brasileira de Ciências Médicas e é presidido por Roquette-Pinto e Renato Ferraz Kehl. Rotulado como um dos principais congressos de eugenia da América Latina, o evento reúne importantes figuras do Brasil e intelectuais latino-americanos. No início da década de 1930, no auge das discussões sobre o controle eugênico da imigração, casamento e fecundidade, os eugenistas brasileiros criaram o Comitê Central de Eugenia do Brasil, com o objetivo de informar o governo e as autoridades públicas sobre assuntos relacionados ao aprimoramento da eugenia no população. Dê sugestões.

Em 1936, os rádios já estavam disponíveis em lojas de varejo. No mesmo ano, a Associação de Radiodifusão do Rio de Janeiro foi doada ao Ministério da Educação e ao Ministério da Educação (MES), cujo titular Gustavo Capanema informou a Roquette-Pinto que a transmissão seria incorporada à publicidade e ao Ministério da Comunicação Cultural (MES). Ainda mais tarde, em 1939, surgirá esse departamento, o DIP), órgão responsável pela censura durante parte da era Getúlio Vargas.

Em resposta, Roquette-Pinto insistiu que a rádio fosse incorporada ao Ministério da Educação e Saúde para manter sua função educativa. Roquette Pinto venceu a corrida. A Rádio Sociedade mudou seu nome para Rádio Ministério da Educação, mais conhecida como rádio MEC, que sempre manteve uma filosofia educacional. Conta-se que ao se despedir do comando de rádio que fundou, sussurrou no ouvido de sua filha Beatrice: “Passo este rádio com a emoção do casamento da minha filha”.

tentativa de televisão educativa
Em 14 de maio de 1952, para aumentar o número de emissoras de televisão na capital federal — já funcionavam as emissoras Tupi de São Paulo e do Rio —, Getúlio Vargas concedeu-lhe um canal de televisão. No entanto, a TV Educativa de Roquette-Pinto nunca saiu do papel. Apesar do planejamento nos mínimos detalhes, da aprovação formal da Câmara Municipal do Distrito Federal, e de seus equipamentos terem sido adquiridos e embarcados no porto de Nova York, de onde deveriam partir para o Brasil, nunca saíram. Edgar Roquette-Pinto morrerá em agonia dois meses depois que Getúlio Vargas cometeu suicídio devido à perda de fundos.

Sua herança
No campo intelectual, o nome de Roquette-Pinto está intimamente associado aos campos da antropologia física e da etnografia, que há mais de três décadas se dedica ao estudo da população brasileira. Em 1911, ele participou do primeiro Congresso Mundial de Raças em Londres, onde conheceu celebridades da comunidade antropológica internacional. Em 1912 fez uma importante viagem antropológica à região da Serra Norte, na foz do rio Amazonas, no norte do estado de Mato Grosso. Como resultado dessa viagem, publicou em 1917 um diário de viagem intitulado “Rondônia: Antropologia – Etnografia”, no qual relatou seus contatos com os indígenas e habitantes celtanijos da região. A viagem também abrirá uma série de estudos que os antropólogos realizarão nos próximos anos para caracterizar a população brasileira. Sua pesquisa será marcada pela defesa dos casamentos raciais e da população mestiça brasileira, além de uma forte crítica ao determinismo racial e biológico. [13]

Roquette-Pinto foi também um dos mais importantes intelectuais brasileiros que, juntamente com Monteiro Lobato, Belisário Penna e Octávio Domingues e Renato Kehl, estiveram envolvidos na organização e divulgação do movimento eugenista brasileiro.  Dificilmente seria um “eugenista” de descendência de Renato Kehl (veja abaixo, 1º Congresso Brasileiro de Eugenia). Diz-se que ele é um defensor da “eugenia ativa”, intérprete do casamento brasileiro, que a seu ver, ao contrário da tendência dos eugenistas europeus, não significa “regressão”. [16] Como crítico do racismo científico, Roquette-Pinto entendia que a eugenia deveria ser usada para melhorar a saúde física e mental de toda a população brasileira, não para excluir negros e mestiços do processo de melhoria da nação brasileira. Nesse sentido, os antropólogos se opõem à “eugenia negativa” e ao racismo praticado por figuras como Renato Ferraz Kehl, que propôs medidas radicais de intervenção eugênica como a segregação e a esterilização eugênica.

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