Ruy Coelho, quem foi ele?
Ruy Coelho (3 de março de 1889 – 5 de maio de 1986) foi um compositor, professor de música e maestro português. É considerado um grande impulsionador da ópera portuguesa do século XX.
Ruy Coelho nasceu a 3 de março de 1889 em Alcácer do Sal (distrito de Setúbal).
A sua formação começou com Alcácer do Sal da Orquestra Filarmónica, e prosseguiu os seus estudos no Conservatório de Lisboa, onde estudou piano, composição, flauta com os professores Alexandre Rey Colaço, Frederico Guimarães, Tomaz Borba e António Taborda entre 1904 e 1909 e contraponto . de outros. Terminou em Berlim de 1910 a 1913 com Humperdinck, Max Bruck, Einsenberg (piano) e Schönberg e em Paris com Paul Vidal.
Em Berlim, compôs algumas obras inovadoras baseadas na música portuguesa da época, tais como:
“Ah! Passas à virgem do pôr-do-sol”, primeira mentira portuguesa, soneto de António Nobre;
A Primeira Sonata para Piano e Violino, a primeira obra portuguesa de música de câmara com escrita harmónica moderna;
A Princesa das Sapatas de Ferro, o primeiro ballet português;
“Sinfonia Camoneana nº1”, a primeira obra dodecafônica portuguesa a usar atonalidade.
Terminada a versão da Sinfonia Camoneana n.º 1 em Berlim, regressou a Lisboa, a 10 de Junho de 1913, aos 24 anos iria participar (tocar órgão) e ser acompanhado por cerca de 500 intérpretes, até que momento, a maior Orquestra Sinfónica do Coro reunida em Portugal para a sua estreia, com uma intervenção do ex-presidente Teófilo Braga num grande recital no Teatro San Carlos.
Noite das Princesas no Teatro Nacional de San Carlos
A 1 de Dezembro de 1913, Manuel de Arriaga e Alfonso Costa estreiam-se no Teatro de San Carlos como a primeira ópera portuguesa “Princesa Princesa” a ser cantada em português As pessoas mais importantes assistiram à estreia Letra de Teófilo Braga.
Em 1917 assinou com os amigos Almada Negreiros e José Pacheco um manifesto promovendo a chegada dos Ballet Russes a Lisboa. Até então, eles planejaram seis balés juntos. Dois deles já foram realizados em residências particulares, e os outros dois serão realizados em São Carlos em 1918: “Bailado do Encantamento” e “Princesa dos Sapatos de Ferro”. A primeira é a encenação de Almada (Acto 1) e a segunda é a encenação e figurino de Almada (ele também dança duas personagens, a bruxa e o diabo). Segundo relatos da época, o show foi muito popular e bem recebido pelo público, com Sidoneo Pais vendo em primeira mão.
Em 1919 e 1922 viajou para o Brasil, onde seu trabalho foi exposto várias vezes, a Sinfonia Camoneana nº 5 foi encomendada pela prefeitura de São Paulo.
Em 1924, sua ópera “Berquis” ganhou o primeiro prêmio do “Concurso Nacional de Música” espanhol.
De acordo com o estilo da época, Ruy Coelho aspirava a “a música exprimir a alma da nação” na sua obra, e em muitas das suas obras utilizava temas do imaginário nacionalista, como as Sinfonias das Cinco Carmonanas, óperas de Gil Vicente ou D. João IV, composta em 1940 para o Centenário da Independência Portuguesa[3] e pelo poeta João da Silva Tavares[4]. Ele afirma ter criado seu trabalho sem seguir tendências, sem ideias preconcebidas e limitantes sobre processos, sistemas ou técnicas ou teorias estéticas, apenas interessado em poder expressar seus sentimentos sobre um assunto.
Embora tenha sido um compositor muito influenciado pelo antigo regime, na verdade era monárquico, pois fazia parte de um movimento conhecido como “Grupo do Tavares”,[5] É importante lembrar que quando o Estado Novo, fundado em 1926, trouxe a S. Carlos pelo menos 11 obras da sua autoria e já ganhou prémios em Madrid. Aliás, como muitos outros artistas, beneficiou-se da política cultural de Antonio Ferro, com quem já havia colaborado em 1924 para apresentar suas canções na sessão “A Idade do Jazz Band”.
Através de vários artigos e pequenos livros defende a música clássica portuguesa e a ópera cantada em português (considerando que, à semelhança do que aconteceu na Alemanha, França e Inglaterra, a ópera deve ser cantada na língua do país em que é apresentada). Ele argumenta que fazer o contrário não é apenas paroquial, mas também prejudicial aos interesses das artes e do público, que realmente não entende o que vê e ouve.
Em 1942 e 1943 regeu a Filarmônica de Berlim no estádio, regendo trechos de sua Ópera Tá-Mar.
Em 1946 dirigiu a Orquestra da Rádio de Espanha, Passeios d’Estio e Concerto para Piano n.º 1 em Madrid.
Em 1949 dirigiu a Orquestra de Colónia na Sala Gavean em Paris, regendo Rondó Alentejano, Jardim Chimerico, Noites nas Ruas da Mouraria, Passeios d’Estio, Feira, 6 canções pop portuguesas e peninsulares.
Durante a década de 1940 colaborou como compositor em várias obras da Companhia Portuguesa de Bailado Verde Gaio.
Envolveu-se em várias polémicas, típicas do meio artístico da época: a primeira, quando tinha apenas 21 anos, durante uma breve estadia em Lisboa, percebeu o êxtase do crítico diante de Luís de Freita Luís de Freitas Branco, e reagiu acusando-o de plagiar César Franck e apresentar seus argumentos ao piano no Salão Nobre do Conservatório; incidente Serão da Infanta”, serviu por 24 anos no governo de Alfonso Costa; posteriormente, colaborou com diversos Câmaras do Conservatório, acusando-as de incompetência, má gestão e até apropriação indébita de bens públicos; com o director de S. Carlos Sim, já durante o Estado Novo, por não cumprir a lei que obriga a uma determinada percentagem das exposições de música portuguesa; atacou ele com os restantes Lopes Graça e Revista Seara Nova que inicialmente “aplaudiram” e trocaram livros insultuosos.
Recebeu elogios de compositores como Farah, com quem muito admirava e trocou partituras por correspondência, além de inúmeros críticos, músicos, cantores, cenógrafos, escritores com quem colaborou.
Já expôs os seus trabalhos por todo o país, levando a música clássica a lugares que na altura não eram possíveis, como: Amadora, Almada, Aveiro, Alcácer, Beja, Covilhã, Évora, Funchal, Santarém e muitos mais, em várias cidades europeias. países fizeram o mesmo. E sul-americanos, por exemplo, as primeiras trupes de ópera portuguesas foram para Paris em 1959 e Madrid em 1961.
Segundo José Blanc de Portugal, as obras orquestrais de Ruy Coelho são mais populares no estrangeiro do que em Portugal.
Além de compor a música para o filme “Alla-Arriba!” Camões de 1942 e Camões de 1946, ambos de Leitão de Barros ou a co-produção luso-espanhola da Rainha Santa, Rui Coelho escreveu manifestos, livros, crónicas e críticas em jornais, a maioria no Newsday, onde colaborou durante muitos anos e foi curado por Saramago durante o PREC (Reescrito, ano 1979-83, crónica intitulada “Histórias da Música”).
Ele é um pianista, muitas vezes o gestor de seus concertos ou edições, um maestro, mas fundamentalmente um compositor, que compôs obras de música em vários gêneros.
Para além da ópera e do bailado, da sinfonia e da música de câmara, do canto e da música religiosa, e até estranhamente a canção da cidade de Lisboa e o famoso Fado de Coimbra “O Beijo”, adaptado de um poema de Afonso Lopes Vieira de António Menano promoção, por vezes erroneamente atribuído ao famoso fadista.
Sua contribuição para a revista Atlântida (1915-1920) é bem conhecida.
Em 12 de janeiro de 1965, por despacho de 14 de dezembro de 1964, foi nomeado Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Ruy Coelho faleceu a 5 de Maio de 1986 em Lisboa.